Há mais de cem anos que o Prémio Valmor, mais tarde fundido com o Prémio Municipal de Arquitetura, vem distinguindo os melhores exemplares da arquitectura da cidade de Lisboa, e desta forma, também inúmeros arquitectos que vieram a ficar na história da arquitectura do nosso país. Este prémio, cuja reputação vai além da capital, tornou-se muito justamente um símbolo maior da competência nesta disciplina e um estímulo para todos os arquitectos que se dedicam à concepção e construção da cidade.
O Prémio Valmor foi criado em 1903, em cumprimento do legado testamentário do 2.º Visconde de Valmor, Fausto Correia Guedes. Desde esta época é atribuído, em partes iguais, ao arquitecto autor do projecto e ao promotor da obra, “com a condição (…) de que essa casa nova, ou restauração de edifício velho, tenha um estilo arquitectónico Clássico, Grego ou Romano, Romão-Gótico, ou da Renascença ou algum tipo artístico Portuguez, enfim um estilo digno de uma cidade civilizada”.
A fusão com o Prémio Municipal de Arquitetura, em 1982, proporcionou a criação de um novo regulamento, que tem vindo a ser actualizado, passando o novo Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura a dispensar candidatura prévia e a premiar obras totais e integrais de construção, remodelação ou recuperação, sendo mais recentemente alargado a intervenções no espaço público.
A Trienal de Lisboa colaborou com a CML na recolha dos dados, no acompanhamento e secretariado das reuniões de júri, na reformulação da imagem gráfica dos materiais de apresentação do prémio, no desenho e montagem da exposição associada, assim como na organização das visitas às obras premiadas.
No dia 11 de Abril de 2019, foram anunciados os vencedores e menções honrosas do Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura 2017, que se juntam aos galardoados no ciclo 2013–2016, divulgados a 18 de Dezembro de 2017. Foi nesse ciclo que a Trienal iniciou a colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa relativamente ao centenário prémio, tendo sido apresentados os vencedores e menções honrosas de 4 anos consecutivos.
2017
Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura ex æquo
Edifício Sede da EDP por Aires Mateus (arquitectos)
e EDP – Energias de Portugal (promotor)
A história de Lisboa e do aterro conquistado à água ditaram a implantação dos corpos edificados, perpendiculares ao rio. À altura da instituição que representa, o conjunto projecta uma aparência eléctrica e enérgica, que se transforma com a luz do dia e o local de onde é observado.
A construção é desenhada por uma única linha, que lhe atribui volume e expressão, sem perder leveza e permeabilidade. Estas lâminas de ensombramento — perfis metálicos revestidos a placas de cimento branco reforçado com fibra de vidro — respondem à necessidade de sustentabilidade energética do edifício e garantem a flexibilidade programática interior e o suporte dos vários pisos.
Dois blocos de escritórios, com 7 pisos, são interligados por duas galerias sobrelevadas, nos extremos Norte e Sul do lote. Em contraponto, os espaços de maiores dimensões são enterrados — numa estrutura em betão armado subtérrea, podem ser encontrados os foyers, auditórios, salas de reuniões e exposições, e a cafetaria, sob os quais se escondem quatro pisos de estacionamento. Ao nível térreo, uma praça, pública mas institucional, é servida por um restaurante e uma loja de serviços que oferecem funções complementares às da sede.
2017
Prémio Valmor e Municipal de Arquitetura ex æquo
Terminal de Cruzeiros de Lisboa
Carrilho da Graça, arquitectos (arquitecto)
APL – Administração do Porto de Lisboa e LCP - Lisbon Cruise Port, Lda. (promotor)
Construído sobre o plano desafogado do aterro ribeirinho, o compacto edifício responde a parte da pressão turística exercida sobre Lisboa. As variações da sua morfologia albergam um programa diverso que o espaço público adjacente permite prolongar. Levantada do chão, a edificação transforma-se num miradouro entre o Tejo e Alfama. Cega do lado do rio, de onde se lê como um discreto embasamento pétreo da cidade, e vincando-se, do lado terra, apenas o suficiente para revelar os pontos de acesso. Uma nova porta de entrada para o turismo de cruzeiro.
O exosqueleto do edifício é materializado em betão branco com cortiça, com capacidade estrutural. Uma solução especialmente desenvolvida para aligeirar o peso do edifício, condicionado pelas fundações preexistentes, a partir de uma ideia de Carrilho da Graça.
As funções do terminal são constituídas por estacionamento, no subsolo; entrega, processamento e recolha de bagagem, no piso térreo; e área de passageiros, no primeiro piso. Uma passerelle de 600 metros faz a ligação aos navios. Enquadrando o edifício, uma alameda arborizada antecipa uma evolução além do seu uso como gare marítima.
2017
Menção Honrosa ex æquo
Palacete de Santa Catarina
Teresa Nunes da Ponte Arquitectura (arquitecto)
Eijrond Beheer B.V. (promotor)
Este palacete destaca-se da envolvente pelas suas volumetria e qualidade formal, constituindo-se como um marco urbano que se abre uma vista desafogada sobre a Bica, até ao Tejo. Respeitando o existente, a intervenção sobre este edifício oitocentista acusa a contemporaneidade, utilizando um desenho depurado e rigoroso para adaptar-se ao seu novo uso enquanto unidade hoteleira.
A intervenção recupera os espaços, enfatizando a racionalidade da compartimentação e a estrutura. Restauram-se os vários elementos com as técnicas e os materiais tradicionais, e demole-se a maior parte dos elementos espúrios recentes. Os pormenores da decoração são renovados e é desenhada a maior parte do mobiliário.
2017
Menção Honrosa ex æquo
Lisbon Stone Block
Souza Oliveira, arquitectura e urbanismo (arquitecto)
Imoproperty – Fundo Especial de Investimento Imobiliário (promotor)
Apelidado de Lisbon Stone Block pelo aspecto de bloco pétreo que a sua imagem urbana lhe confere, este edifício localiza-se num gaveto das Avenidas Novas. O seu conceito baseia-se numa fachada mutante, em “pele de pedra”, que configura diferentes imagens de acordo com o uso: de noite, irradia luz para o exterior; de dia, é atravessada pela luz que chega ao interior por entre os painéis de posição variável.
Ao piso térreo envidraçado destinado ao comércio, juntam-se, distribuídos por oito pisos, 20 fogos caracterizados por uma sala que articula e dá sequência à cozinha. Plantas em que é visível uma procura pela contemporaneidade do estar, articulando o estar/conviver, o comer e o preparar de refeições através de um versátil sistema de painéis móveis. Todos os quartos apresentam uma organização próxima da de uma suite, procurando proporcionar níveis mais confortáveis de intimidade.
2017
Menção Honrosa ex æquo
Casa em Alfama
Matos Gameiro, arquitectos (arquitecto)
João Paulo Gonçalves Silva Cardoso (promotor)
Localizada num pequeno largo de Alfama, abaixo do Mosteiro de São Vicente de Fora e junto ao Panteão Nacional, a operação trata da recuperação e transformação em guest house de um edifício de base medieval, exemplo raro num conjunto dominado por edificações posteriores ao terramoto de 1755.
A ocupação da pequena construção foi gerando, ao longo dos tempos, novos muros, que resultam numa casa com dois pátios. A intervenção pretendeu esclarecer o argumento interno, reforçando o seu sentido mais intrínseco: se os pátios determinam a organização, será nos seus intervalos que se dispõe o programa. Do projecto, resultaram quatro espaços exteriores, intercalados por lugares de abrigo.
O conjunto remete para as ideias de ruína, devido ao seu carácter destelhado; de contenção, pela natureza das celas habitáveis; e do prazer com que se exploram os pátios, enquanto salas exteriores, destituídas de função imediata, uma das quais se acha inundada de água quente.
2017
Menção Honrosa ex æquo
Largo de Santos e vias adjacentes
92 Arquitectos (arquitectos) e Victor Beiramar Diniz (arquitecto paisagista)
Câmara Municipal de Lisboa (promotor)
Um projecto infra-estrutural que decorre no âmbito do programa “Uma Praça em Cada Bairro”, tendo como ponto de partida o programa preliminar desenvolvido pelo departamento de Espaço Público da Câmara Municipal de Lisboa, que propõe uma nova microcentralidade para a capital.
Os principais objectivos da intervenção são a devolução do espaço ao peão, a implementação de uma rede de ciclovia e o aumento da área verde, reduzindo-se o número de faixas viárias. O projecto foca-se ainda na melhoria das ligações pedonais aos transportes públicos.
Observando a assimetria que caracterizava a Avenida 24 de Julho, conclui-se fundamental a criação de uma forte unidade. Celebrando o contexto do bairro num processo territorial socialmente democrático, a requalificação do espaço público permite a melhoria da experiência urbana.
Júri 2017
Para o ano de 2017, o júri foi constituído pela Dr.ª Catarina Vaz Pinto, em representação do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, pelo Arq. Jorge Catarino Tavares, em representação do Vereador do Pelouro do Urbanismo, pelo Arq. Alberto Souza Oliveira, personalidade convidada pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, pelo Arq. Francisco Berger, representante da Academia Nacional de Belas-Artes, pelo Arq. Cândido Chuva Gomes, representante da Ordem dos Arquitectos, e pelo Arq. João Pardal Monteiro, representante da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. Os textos sobre as obras foram elaborados a partir das memórias descritivas enviadas pelos autores/arquitectos.