Esta peça concebida para a Sala Azul do Palácio Pombal percorre a história da arquitectura com uma liberdade capaz de expressar o sentido de perenidade que existe na forma arquitectónica. Usando como exemplo a figura da pirâmide evoca três obras distantes no tempo e distintas na materialidade: a grande pirâmide de Quéops, na necrópole de Gizé, construída em pedra cerca de 2560 A.C.; a pirâmide invertida em betão-armado idealizada em 1954 por Oscar Niemeyer para o Museu de Arte Moderna em Caracas; e a pirâmide em vidro construída por Ieoh Ming Pei, em 1984, no Museu do Louvre em Paris.
Rotulado como herdeiro do Movimento Moderno e obcecado pela obra projectada e construída de Mies van der Rohe, Eduardo Souto de Moura não se inibe de apropriar as formas que constroem a história da arquitectura, ainda que isso implique uma perda de referente em busca de novas significações. Este uso – de uma certa autonomia da linguagem e, se quiserem, da própria arquitectura até mesmo abuso – da história não está relacionado com a proclamada “continuidade” da arquitectura, nem com a ideia de “legado” da arquitectura moderna – um paradoxo evidente. Pode argumentar-se que Souto de Moura está, em primeiro lugar, interessado na autonomia da forma, incorporando nos seus projectos a ilusão. No entanto, é possível decifrar as relações ocultas ou explícitas entre as coisas e, como Aby Warburg, procurar identificar as ligações entre formas, objectos e sentidos. Parece quase impossível contornar esse mundo infinito de associações.
Embora a forma conte, o seu significado pode permanecer um enigma, ou ser uma dádiva a historiadores ou transeuntes. Se o arquitecto tem de se bater pela qualidade formal e construtiva dos seus projectos, pode também reivindicar a liberdade da arte para as suas criações.