A cintura urbana de Lisboa é uma paisagem consolidada. Mas até que ponto é que essa paisagem é partilhada colectivamente? Quais os limites entre arquitectura e paisagem? Como é que a sociedade acolhe e aprecia, ou deprecia, a produção do seu próprio espaço construído? E qual poderá ser o contributo da arquitectura para domesticar um cenário urbano comumente tomado como negativo? Num território menos óbvio para o roteiro de um turista, esta exposição resulta de uma chamada de propostas no âmbito da Future Architecture Platform.
A fotografia é um meio reconhecido de reconstruir a paisagem. Opera no domínio do subjectivo para alterar o modo como apreendemos o mundo físico. As imagens da Amadora de Nuno Cera retratam o confronto entre o desenvolvimento urbano enquanto processo especulativo e a permanência de fragmentos de diferentes usos. Os fragmentos agrícolas que permanecem encontram ruas esquecidas e o colorido dos espaços comerciais alimenta fortes ligações sociais e novos modos de vida. Para ultrapassar a falsa dialética entre um paraíso perdido e a cidade contemporânea, é necessário ampliar a visibilidade das qualidades urbanas. É necessário expandir os limites da paisagem, conhecer a realidade de modo objectivo e encontrar, no domínio da arquitectura, as ferramentas para potenciar as suas qualidades.
Percorrer o Aqueduto
Manon Mollard
Da Casa da Mãe de Água Velha ao Depósito das Amoreiras, o Aqueduto das Águas Livres atravessa a região da Amadora intersectando, imperturbável, espaços de matriz agrícola e áreas densamente urbanizadas. Hoje, esta obra-prima da engenharia tornou-se invisível, a sua forma perdeu-se na conurbação de Lisboa, engolida pela urbanização contínua e sem limites. A dicotomia cidade versus campo é irrelevante. É necessário encontrar algum sentido nesta imensidão difusa, torná-la mesurável. Num tempo em que os territórios se fragmentam ad infinitum, o Aqueduto pode tornar-se de novo um elemento estruturador do contínuo urbano. Haverá melhor maneira de reorganizar o território do que revigorando um dos seus principais eixos históricos? Este projecto dá forma a essa hipótese através de uma rede de torres-miradouro.
O percurso do Aqueduto é pontuado por uma série de estruturas que emergem verticalmente. Nesta proposta, cada torre-miradouro liga-se a outra através de um raio de luz, gerando um perfil luminoso denteado no horizonte do céu nocturno. Assim se descobrem novos pontos de referência no território. A morfologia do aqueduto reage à topografia que atravessa: correndo rente ao chão, vencendo vales com estruturas em arco e escondendo-se sob montes, fazendo-se apenas visível através da presença de lanternins que rompem à superfície. Essa forma constitui uma oportunidade para promover a interacção entre pessoas e a sua envolvente próxima, trata-se de um novo modo de usufruir a paisagem. Luz e panoramas, vegetação e ar, água e ruínas, contribuem em conjunto para a ancorar a cidade no seu contexto. Quando se compreende como funciona uma paisagem e o que lhe está subjacente, qualifica-se o seu uso.
Common Places: Urban Playgrounds
Plan Común
A Amadora é um exemplo de uma cidade convencional (e negligenciada) onde o espaço público e os espaços intersticiais de uso colectivo — lugares onde a cidade genérica mostra o seu lado mais sombrio — são lugares privilegiados para testar novas estratégias de intervenção em tecidos urbanos. Para fazer face a este cenário, Plan Común — um atelier franco-chileno fundado em 2012 com sede em Santiago — convidou um conjunto de jovens ateliers de arquitectura para discutir, reflectir e conceber uma série de “Micro-espaços públicos”. Tomando de empréstimo uma ideia do atelier japonês Bow-Wow, esta série configura-se como uma colecção de “praças de bolso”, espaços públicos de pequena dimensão cujo carácter lúdico é capaz de gerar momentos de interacção social e novos hábitos urbanos.
Common Places: Urban Playgrounds apresenta estratégias que poderão contribuir para reimaginar a Amadora através de um conjunto de micro espaços públicos passíveis de serem reproduzidos em contextos similares. O principal objectivo é oferecer pistas que possam alimentar uma discussão. A família de propostas geradas pode ser testada, apropriada, adaptada e aplicada em tantas cidades do mundo que partilham estas características. De espaços de uso comum a um plano urbano.
Contributos
Plan Común, Bruna Canepa, Marcelo Cox, Dyvik Kahlen, Hamed Khosravi, Ciro Miguel, NP2F, Tsubame Architects, Lavinia Scaletti, Tiago Torres-Campos e Umwelt.