Tal como as formas da arquitectura determinam a organização do estaleiro de obra, as tecnologias e a estrutura económica com que a sociedade organiza os seus modos de produção condicionam, e estimulam, a concepção do projecto.
Da comunicação entre projecto e obra, da organização do tempo e do dinheiro, até à retórica política ou à excitação tecnológica, é na obra que tudo se joga.
O trabalho dos arquitectos serve de ferramenta para contrabalançar a ansiedade do cliente perante muitos factores, ou a necessidade de conjugar prazos de construção e optimização de custos com padrões de qualidade. Numa obra, muitos interesses requerem negociação e o papel da arquitectura desenrola-se transformando projectos em edifícios. Até que ponto as recentes transformações na indústria da construção e na organização da obra transformam a prática da arquitectura?
A exposição está organizada em módulos, articulados por um fio condutor, que correspondem a exemplos que servem de âncoras para revelar diferentes abordagens.
Um dos casos de estudo é apresentado em co-curadoria com o CCA – Canadian Centre for Architecture. Partindo do arquivo profissional de Cedric Price, o módulo foca um relatório que produziu nos anos 70 tendo em vista a melhoria das condições de trabalho nos estaleiros e que permitiu consolidar um olhar original sobre as formas de organização da indústria da construção. Outro exemplo – apresentado em parceria com a Cité de l’Architecture et du Patrimoine – é um olhar sobre a estrutura empresarial de François Hennebique que, no final do século XIX e dominando a técnica da construção em betão armado, abriu caminho à concentração do saber técnico.
O carácter histórico destes exemplos proporciona leituras cruzadas sobre as problemáticas que os estaleiros de obra levantam, e a exposição propõe uma reflexão sobre as transformações e desafios dos estaleiros de obra contemporâneos – e do seu impacto na prática da arquitectura.