Em 2023, o festival FUSO celebra a 15.ª edição apresentando o vídeo como ferramenta criativa e de reflexão crítica. Capaz de abarcar e cruzar as diversas disciplinas artísticas contemporâneas e evoluir para campos de pesquisas que permitem novas experimentações, a videoarte é um instrumento acessível e importante para a reflexão sobre os tempos que vivemos.
Questões urgentes como o sentimento de pertença e o direito à liberdade, os padrões de desigualdade tecidos pelo colonialismo, a emergência climática e os desafios sociais e políticos que o mundo enfrenta nos dias de hoje, são temas que importam. O FUSO realiza-se de 22 a 27 de Agosto em vários espaços de Lisboa e regressa ao Palácio com uma sessão que apresenta cinco curtas na sexta-feira, 25 de Agosto.
Right of Way
Curadoria Benjamin Cook
25 Agosto, 22h00, Pátio do Palácio
Uma selecção de encomendas recentes e de filmes distribuídos pela LUX, a agência do Reino Unido para o apoio e promoção de artistas que trabalham com a imagem em movimento, constituem a matéria de referência para um programa que se debruça sobre ideias de pertença no contexto do relacionamento hostil do governo do Reino Unido com as suas comunidades migrantes.
Durante a pandemia da COVID-19 - e à medida em que as pessoas se foram consciencializando da importância da natureza e dos espaços abertos para a sua saúde e bem-estar mental - sublinhar as desigualdades de acesso em contextos rurais, a par da desconexão sentida por milhões de pessoas em relação à ruralidade e ao campo.
Um inquérito governamental de 2019 permitiu constatar que muitas pessoas negras, asiáticas e de diversas etnias vêem o campo como um irrelevante “clube para a classe média branca”, concluindo que essa linha de separação se acentuará com as mudanças sociais, e que “o campo se tornará irrelevante para o país real.
A Protest, A Celebration, A Mixed Message
Rhea Storr
É um documentário sobre o Leeds West Indian Carnival. Ao examinar as formas de autoridade, o filme retrata quem participa e quem observa. Seguindo os Mama Dreads, um grupo que tem como tema do carnaval a imigração caribenha para o Reino Unido, somos convidados a refletir sobre a visibilidade dos corpos negros, especialmente em entornos rurais. O filme mostra a facilidade da auto-representação cultural de uma pessoa de ascendência mista no Reino Unido e de que formas os corpos negros se tornam visíveis, questionando a, ou apropriando da, cultura negra.
Black Strangers
Dan Guthrie
Em “black strangers” o cineasta enceta uma pesquisa sobre um homem chamado Daniel, registado num registo episcopal mantido nos Arquivos de Gloucestershire, que foi enterrado em Nympsfield em 1719 e descrito como ‘um estrangeiro negro’.
Enquanto caminha, Dan fala diretamente com Daniel, especulando sobre os paralelos entre ele e seu homónimo, e em como a sua experiência na sua cidade natal de Stroud espelha a de Daniel.
I Carry It With Me Everywhere
Arwa Aburawa & Turab Shah
Partindo de entrevistas com migrantes de primeira geração que residem no Reino Unido, esta curta-metragem entrelaça as vidas de vários personagens que se confrontam com ideias de pertença herdadas. Desde a conexão interrompida com a terra natal após a morte de um dos pais, até à experiência geracional de deslocamento ou a sensação de nostalgia por um lugar e tempo sempre inatingíveis, explora como a migração suscita momentos de ruptura a partir dos quais podem surgir novas interpretações de lar e de pertença.
Pastoral Malaise
Ufuoma Essi
Este filme explora as ausências dentro das paisagens pastorais rurais, frequentemente enquadradas pelo romantismo e convenções pitorescas, construídas como locais turísticos e refúgios em toda a Grã-Bretanha.
Syncopated Green
Arjuna Neuman
Arjuna Neuman reflete sobre a história das festas ao ar livre numa zona rural da Inglaterra, ao som de música rave do passado e do presente para a ajudar a esquecer a representação ‘oficial’ da Inglaterra como pitoresca, nostálgica, branca e rural. O filme convoca a música rave para a paisagem inglesa - invertendo a história imperial. Entre um videoclipe, uma memória e um ensaio, Syncopated Green questiona como poderia o futuro ser diferente se outras histórias tivessem sido contadas para nos apoiar - e dançar juntos?
Sobre o FUSO
Esta 15ª edição do FUSO (22 — 27 Agosto 2023) reúne obras de artistas cujas práticas definem as realidades contemporâneas e chamam a atenção para as formas como essas questões existiram e ainda permanecem na sociedade, seja através das nossas instituições, comunidades e pensamentos. Como é habitual as várias sessões do festival acontecem ao ar livre, em espaços como o Castelo de São Jorge, o Museu Nacional de Arte Contemporânea, o Palácio Sinel de Cordes ou o claustro do Museu da Marioneta.
Criado em 2009, o FUSO é o único festival português de videoarte, de produção nacional e internacional que se realiza anualmente em Lisboa e nos Açores (FUSO Insular).
A programação é tão eclética quanto o são as linguagens que dão corpo à videoarte. Como medium, é sem dúvida o que tem maior flexibilidade, maior capacidade de abarcar e cruzar as disciplinas artísticas contemporâneas: as artes visuais, a performance, a dança e o teatro, o cinema ou a literatura.
