MENU
PTEN
Trienal de Arquitectura de Lisboa
Data
14 MAI 2025 - 06 JUN 2025
Local
Palácio Sinel de Cordes
Edição
Equipa
Programado por Jared Hawkey/Sofia Oliveira 
Co-Produção
Organização CADA em parceria com a Trienal de Arquitectura de Lisboa e Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa

Estrutura financiada por: República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes


Informação adicional
Registo de bilhetes (grátis):

https://www.eventbrite.pt/o/cada-6048405527


Human Entities 2025

Ciclo de conversas

A 9ª edição de Human Entities - a cultura na era da inteligência artificial - uma iniciativa do grupo artístico CADA, regressa a Lisboa em Maio e Junho de 2025, com um programa de conversas públicas focado na mudança tecnológica e nos seus impactos, nas formas como a tecnologia e a cultura se influenciam mutuamente. A entrada é livre mediante registo prévio aqui.

Quarta, 14 de Maio 2025, 18.30
Artist Talk: Welcome to Jankspace, babes
Daniel Felstead


Jankspace é a fuga de resíduos do stack à medida que metaboliza o meatspace em lodo 
alucinogénico. É a caoticamente impressionante configuração multi-display de cabos emaranhados, ecrãs a piscar e notificações sonoras do condutor Uber. É literalmente nós e os nossos corpos maravilhosamente fodidos e incomputáveis que sabemos não estarem assim tão bem programados e que nenhuma quantidade de optimização vai resolver. Nesta conversa, Daniel utilizará o conceito de Jankspace para explorar alguns dos temas centrais da sua prática, nomeadamente, o desarranjo estético da cultura digital quotidiana, os nossos desequilibrados e mediados corpos e os delírios idiotas do transhumanismo.

Daniel Felstead é um académico e produtor de conteúdos cuja prática se centra na relação entre o corpo, a tecnologia e a cultura. É coordenador do curso de MA Fashion Media & Communication no London College of Fashion (UAL). Daniel já falou e expôs internacionalmente, incluindo na Architectural Association, Berlin Critics Week, Die Angewandte, Fundació Foto Colectania, Global Art Forum, MAPS, ICA, PAF, RCA, RISD, Shedhalle, Transmediale e V&A Museum. O seu doutoramento explorou modos especulativos de produção, sistemas complexos e a plataforma em relação à arte participativa. Mais recentemente, Daniel produziu uma série de curtas-metragens aclamadas pela crítica que exploram os mitos, as ideologias e as realidades do metaverso, da IA, da biotecnologia e dos media neurais.

Quarta, 21 de Maio 2025, 18.30
‘P: O que é partilhar tempo? R: OM?’
Fred Cummins


A linguagem é, na sua própria estrutura, dualista, e isso conduz-nos repetidamente às 
mesmas divisões polarizadoras de sujeito/objecto, mente/corpo, mental/físico, que podem desesperar as tentativas de ver, para além das distinções que traçamos na linguagem, o seu fundamento contínuo e real. Tentarei animar este velho tema através da consideração do corpo usando um truque retirado do Taittirīya Upanishad, no qual o corpo (e o seu complemento, o seu mundo) é considerado numa sequência de três passos associados aos órgãos do coração, dos pulmões e do cérebro, respectivamente. Podemos chamar a este exercício Meditação do Coração. A exploração desta sequência será feita em conjunto, usando os nossos corpos indubitavelmente reais e vitais. Em vez de um fisicalismo familiar, exploraremos as origens do tempo e do espaço no e através do corpo, e do emaranhado de carne, espírito e imaginação que surge quando estamos co-presentes.

Esta forma de abordar a incorporação é informada por muitos anos de estudo do cântico ou joint speech, no qual as pessoas se juntam em torno de um objectivo comum e comungam através da produção síncrona de sons que fundam colectivos. Partilhar o tempo sem relógios pode orientar-nos em relação às nossas lealdades em constante mudança, identidades fluidas e talvez até valores sagrados. Deixando para trás as características dissociativas da linguagem, voltar-nos-emos para o poder criativo da voz, que o Māndukya Upanishad nos assegura ser a origem de tudo.

Fred Cummins tem trabalhado como cientista cognitivo na área da cognição incorporada, e foneticista, procurando formas de nos compreendermos como estando baseados nos nossos corpos (não nos cérebros!). Desenvolveu o estudo do discurso conjunto (Joint Speech), que acontece sempre que várias pessoas emitem os mesmos sons ao mesmo tempo. Esta forma de enquadrar as coisas permite uma análise rica das caraterísticas comuns do ritual (oração, mantra), do protesto, da participação desportiva e da educação de uma forma que não está comprometida com a divisão convencional da realidade em domínios distintos do natural, do social e do cultural.

Quarta, 28 de Maio 2025, 18.30
Notas sobre ‘conteúdo’
Caroline Busta


À medida que a perspetiva de um ponto de vista dá lugar a formas colectivas de 
conhecimento, que os media proliferam sem fim, que o texto é cada vez mais sentido do que lido e que o mito do génio individual-criativo é dissolvido pela lógica dos LLMs treinados em enxames, estamos a atravessar uma mudança de época na expressão e recepção humanas. Analisando esta mudança de clima comunicacional, Caroline Busta examinará o papel do ‘conteúdo’ neste contexto e algumas abordagens emergentes de adaptação.

Caroline Busta é co-fundadora do canal de media crítico New Models. Anteriormente, foi EIC da Texte zur Kunst e Editora Associada da Artforum. Foi co-editora do catálogo de Holly Herndon & Mat Dryhurst, All Media is Training Data (2024, Serpentine/König) e o seu recente ensaio ‘Hallucinating sense in the era of infinity-content’ aparece na edição SS24 da revista Document.

Quinta, 5 de Junho, 18.30
Planta Sapiens: Repensar a inteligência no mundo vivo
Paco Calvo


A compreensão convencional da inteligência foi durante muito tempo moldada por modelos humanos e animais, deixando pouco espaço para considerar o potencial cognitivo das plantas. No entanto, a investigação emergente desafia esta perspectiva, revelando que as plantas se envolvem com o seu meio envolvente de formas que sugerem a resolução de problemas, adaptação flexível e até modos de comportamento antecipatório. Nesta conversa, apresentarei algumas descobertas fundamentais, explorando a forma como as plantas processam a informação, respondem a estímulos e coordenam as suas ações através de mecanismos de sinalização sofisticados. Para além das descobertas científicas, estes conhecimentos suscitam questões filosóficas mais profundas. Porque temos dificuldade em conceber as plantas como algo mais do que organismos passivos? 

Que pressupostos moldam a nossa tendência para separar o humano do não-humano, a inteligência do instinto ou a acção do ambiente? Os nossos quadros conceptuais e linguísticos estão muitas vezes mal equipados para acomodar a possibilidade de as plantas também participarem na teia da cognição. Ao questionar estes preconceitos, abrimos a porta a uma visão mais expansiva e inclusiva da vida; uma visão que reconhece a inteligência como um fenómeno mais amplo e mais distribuído pelos sistemas biológicos. Esta mudança de perspetiva não só aprofunda a nossa compreensão das plantas, como também nos desafia a repensar ideias fundamentais sobre a mente, a percepção e a natureza interligada de todos os seres vivos.

Paco Calvo é professor de Filosofia da Ciência, Investigador Principal do Minimal Intelligence Laboratory (MINT Lab) da Universidade de Murcia (Espanha). Os seus interesses de investigação abrangem as ciências cognitivas, com especial ênfase na inteligência das plantas, psicologia ecológica e ciências cognitivas incorporadas, robótica e IA. Utiliza fotografia de lapso de tempo para explorar a perceção-ação e a aprendizagem nas plantas. Os seus artigos científicos foram publicados em Annals of Botany, Biochemical and Biophysical Research Communications, Frontiers in Neurorobotics, Frontiers in Robotics and AI, Journal of the Royal Society, Plant, Cell & Environment, Plant Signaling & Behavior, Scientific Reports and Trends in Plant Science, entre outras publicações. É autor do livro de ciência popular Planta Sapiens: A Inteligência Secreta das Plantas (Editorial Presença, 2023; com Natalie Lawrence).

Perspectiva curatorial 

A cultura na era da inteligência artificial
por CADA (Jared Hawkey/Sofia Oliveira)

Há muito que a modernidade proclama a espécie humana como a medida e o centro da realidade. Aqui, o mundo é entendido através do excepcionalismo humano, uma construção ideológica que atinge o seu ápice no acto de separar a natureza da cultura. Guiando-se pela ciência e pela razão, o projecto da modernidade rejeita a noção de que exista algo para além do “visto” e o tecnoprogressivismo constitui-se como a nossa fé secular. E embora o indivíduo autónomo não seja inteiramente enquadrado fora do social, a promessa de liberdade individual e de auto-expressão está consagrada no coração da modernidade. Apesar do pós-modernismo, das guerras científicas e das disrupções climáticas, o fantasma da modernidade continua a assombrar os nossos sistemas de valores subjacentes – para o bem e para o mal (muitas vezes ambos).

Human Entities 2025 examina duas preocupações inter-relacionadas. Em primeiro lugar, a forma como as ideologias tecnocientíficas, as novas estruturas de Inteligência Artificial (IA) e a utilização dos meios digitais se combinam para afectar a nossa percepção, a nossa cognição e as nossas emoções. Definida pelo hiperindividualismo, a vida online ocupa um espaço circulatório onde a “cultura” se transforma em “conteúdo”, cuja modelação algorítmica cada vez mais individualizada e orientada para o lucro, tem um impacto profundo na psique humana.

Em segundo lugar, o programa procura olhar para além dos nossos actuais equívocos metafísicos, para ideias de inteligência não neural e para a questão de saber se a consciência é ou não gerada pelo cérebro – reconhecendo, ao mesmo tempo, o que as plantas sempre souberam, que toda a vida está interligada e que a espécie humana nunca esteve no centro da realidade.