A convite do Secretário de Estado da Cultura-Direção Geral das Artes, a Trienal assumiu a produção de Homeland | News from Portugal, projecto comissariado por Pedro Campos Costa. Na 14ª Bienal Internacional de Veneza, com curadoria geral de Rem Koolhaas, a Representação Oficial de Portugal apostou num dispositivo expositivo não convencional: um jornal.
Com uma localização estratégica no Arsenal, o Pavilhão de Portugal foi espaço de apresentação e distribuição gratuita de três edições desse jornal. Entre Junho a Novembro de 2014, Homeland, News from Portugal veiculou conteúdos originais como resposta ao desafio de Rem Koolhaas, ao tema “Fundamentals – Absorbing Modernity: 1914-2014”. Homeland propôs uma reflexão crítica sobre a habitação, o campo de excelência da experimentação arquitectónica e elemento determinante e primário da construção urbana e territorial, reflexo social e cultural de quem a habita.
Protagonizados por seis grupos de arquitectos focou seis tipologias habitacionais: temporário, informal, unifamiliar, colectiva, rural e reabilitação. Cada tipologia centrou-se numa das seguintes cidades: Porto, Matosinhos, Loures, Lisboa, Setúbal e Évora.
HOMELAND – News from Nowhere*
Pedro Campos Costa
Clonar um Jornal, na sua forma gráfica, na forma escrita e na forma de representação, permite-nos usar uma linguagem simples e directa, um hipertexto como uma possibilidade para debater um tema, ir para a frente e para trás no tempo, interceptar pesquisas de diferentes disciplinas sobre o mesmo assunto e questionar o actual momento da crise. O que estamos a fazer em Portugal? E o que podemos fazer? O que pensamos sobre o que foi o Movimento Moderno? Como foi preservado? Como lidamos com as novas mudanças?
O discurso arquitectónico é construído por sistemas de representação, tais como desenhos, modelos, fotografias, livros, filmes e propaganda. A relação com os media foi extremamente importante para a arquitectura moderna. Beatriz Colomina argumenta que arquitectura só se torna moderna quando se compromete com os mass media. Queremos usar o jornal não apenas como uma metáfora para a modernidade na Arquitectura, que materializa um tipo de artefacto arqueológico que pode auto-representar-se como a história da modernidade, mas também como um instrumento do “quotidiano”, efémero e político. Esta é uma oportunidade de falar sobre casa e terra, uma tentativa de cooperar com a sociedade, com o território e com o contexto político. William Morris, no seu livro de 1890 – “News From Nowhere” – questionava-se sobre uma futura sociedade, uma sociedade utópica, uma ficção que, directa ou indirectamente, os arquitectos seriam responsáveis por construir, um sonho de transformar a realidade num lugar melhor.
Este jornal é o Pavilhão de Portugal, pretende ter uma influência sobre a situação actual portuguesa, iniciar um debate, provocar algum tipo de resposta e mostrar caminhos possíveis, usando exemplos do passado e falando sobre o futuro. Tudo acontece num lugar específico, com pessoas específicas, num contexto específico, e não em lugar nenhum. No entanto, procuramos essa utopia nesses lugares. Esquecemo-nos constantemente que o que chamamos às vezes de Utopia é provavelmente a única forma de modernidade. Sem uma noção de futuro, não há modernidade.
*texto do curador incluído num dos jornais Homeland e no catálogo da representação Portuguesa à Bienal de Veneza 2014