Montagem: SetUp
"Da miríade de terrenos artísticos que se podem atravessar na colecção Treger/ Saint Silvestre, recortou-se o aspecto dos excêntricos, dos construtores e dos visionários na tentativa de revelar, através de um paralelismo com as propriedades quase mágicas do número de ouro, artistas cuja obra procurasse a perfeição das mais sublimes realizações arquitectónicas.
Na escolha de obras e tipologias arquitectónicas, tentou-se mostrar a inteligível diversidade de desenhos, monólogos, contemplações, raciocínios solitários, para tornar mais fluida a compreensão da relação entre componentes naturais e entrópicas, cânone de beleza, variedade, organização. Projectos ideais, arquitecturas em papel, obras que descrevem imagens mentais e delírios que se relacionam com o desejo de alcançar mundos idealizados, a casa ou a cidade sonhada para poder recriar um espaço ou uma forma onde se sentirem realmente acolhidos.
Nesta exposição o visionário é uma idealização; o impraticável uma utópica perfeição, uma imagem mental dissociada da natureza física do mundo real, a ocasião de reconstrução do mundo como cada artista pensa que deveria ser ou em todo o caso, um convite a descobrir e construir uma narrativa própria. Cada obra apresentada é, ao mesmo tempo, síntese de construção formal e intelectual, expressão de relações entre as formas, equilíbrio entre as cores, aprimoramento e perfeição. É nessa linha que o número de ouro acompanha e desafia a construção de projectos, de protótipos ligeiros capazes de se adaptarem ao nomadismo ou alimentar a fantasia de uma casa voadora ou sobre rodas, a união de imaginação e funcionalidade, o essencial e o aleatório. Surgem, desta maneira, invenções brilhantes e desequilibradas, desafios perceptivos, uma ideia traçada no espaço feita de relações físicas entre arquitectura e natureza, o céu e a terra. E ainda um sem-fim de relações hierárquicas entre o divino e a sociedade, com enigmas por solucionar dentro de estruturas espaciais claustrofóbicas, uma visão que aglomera o mundo inteiro e sobrevive puramente como visão artística." Esta é a perspectiva da curadora, Antonia Gaeta.
Esta colecção integra mais de 1000 obras de Arte Bruta, Arte Singular e arte contemporânea. A sua natureza específica torna-a única na Península Ibérica. A Coleção é uma das mais ricas coleções privadas no mundo e conta com autores clássicos de Arte Bruta, tais como Adolf Wölfli, Friedrich Schröder-Sonnenstern, Giovanni Battista Podestà e Oskar Voll, assim como descobertas mais recentes, como Ezekiel Messou, Guo Fengyi, Giovanni Galli, Miroslav Tichý e Eugene Von Bruencheinhein. Desde 2014 a Coleção está disponível ao público no Núcleo de Arte da Oliva em S. João da Madeira, em Portugal. Em 2017 foi distinguida com o prémio “Colecionador” pela APOM – Associação Portuguesa de Museologia.
Antonia Gaeta (Itália, 1978) é Licenciada em Conservação dos Bens Culturais pela Universidade de Bolonha. Mestre em Estudos Curatoriais pela FBAUL e Doutorada em Arte Contemporânea no Colégio das Artes da UC. Desenvolveu projectos de investigação e exposição com diversas instituições artísticas em Portugal e no estrangeiro e tem textos publicados em catálogos de arte, revistas especializadas e programas de exposições. Foi coordenadora executiva das representações oficiais portuguesas nas Bienais de Arte de Veneza (edições 2009 e 2011) e de São Paulo (edições 2008 e 2010) para a Direcção-Geral das Artes. Em 2015, foi curadora adjunta do Pavilhão de Angola na 56ª Bienal de Veneza, tendo desde esse ano desenvolvido projectos curatoriais para a colecção de arte bruta Treger/ Saint Silvestre.
(Fechado no feriado 13 de Junho).