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PTEN
Trienal de Arquitectura de Lisboa
Data
26 AGO 2022
Horário
22:00
Local
Palácio Sinel de Cordes
Participantes
Susana Gaudêncio, Daniel Barroca, Salomé Lamas e Jan Fabre.
Informação adicional
Entrada gratuita

Soldier playing with dead Lizard © Daniel Barroca, CAM-Fundação Calouste Gulbenkian

Fuso 2022

Festival Videoarte

Com o tema Resiliência. Esperança. Comunidade, a 14.ª edição do Festival FUSO, que decorre de 23 a 28 de Agosto, regressa ao Palácio Sinel de Cordes. A curadoria convidada é assumida por Jean-François Chougnet, Paul Goodwin, Benjamin Weil, Leonor Nazaré, Ana Rito e Lori Zippay. 

Em 2022, o FUSO questiona como a criação de conhecimentos pode ser ferramenta de reflexão crítica e de mudança coletiva e realça a possibilidade de a arte ser um gesto de resiliência e esperança.

Com sessões gratuitas, o festival apresenta 38 obras de videoarte exibidas em espaços de Lisboa (MAAT, Museu da Marioneta, MNAC, Castelo de São Jorge, Palácio Sinel de Cordes e NowHere). Uma das principais vertentes é a promoção da nova criação nacional com atribuição de dois prémios - Prémio Aquisição Fundação EDP/MAAT e Prémio Incentivo Ar.Co - a partir de uma Open Call aberta a artistas de nacionalidade portuguesa e residentes em Portugal de nacionalidade estrangeira.

A sessão de 26 de Agosto, às 22 horas no Palácio Sinel de Cordes, é intitulada A Utopia da Paz - Filmes da Colecção CAM, Gulbenkian. A utopia da paz tem sido uma “ilha” que flutua, desafortunada, no mapa da história humana de todas as guerras. Susana Gaudêncio parte das zonas habitacionais do Porto chamadas “ilhas” para uma reflexão sobre a questão colonial, que Maria Lusitano, por sua vez, trata com humor crítico e documentação abundante no filme Nostalgia. Em tom manifestamente mais negro, Daniel Barroca fragmenta a percepção do corpo e dos territórios da guerra até à abstracção que os dissolve, Salomé Lamas dá voz à experiência de um mercenário bastante jovem cuja profissão foi matar a comando de grupos corruptos e Jan Fabre filma a representação de uma luta interior, por um cavaleiro medieval que combate os seus próprios demónios. A luta parece ser uma condição humana, mas o objecto dos seus combates denota, quase sempre, um desvio lamentável ao que poderia ser pensado como propósito essencial da experiência da vida: a consciência ligada à autodescoberta, à compreensão do universo e à construção colectiva.

Ao final da sessão sucede-se uma conversa moderada pelo jornalista Vítor Belanciano.

Mais informação aqui.


Ilhas Afortunadas, 2016
Susana Gaudêncio
Animação - Vídeo, som, 13’58’’

Ilhas Afortunadas explora a caminhada como método ancestral de viagem crítica, que catalisa o conhecimento e o acto criativo, e ainda o conceito de insularidade enquanto desejo de imaginação, utopia, autonomia ou refúgio. (…)

Em Ilhas Afortunadas, ouve-se uma narradora em voz off — a da artista, que faz uma caminhada na cidade do Porto. Como um livro de bordo, a animação-vídeo assinala pormenores do que observa, dos locais que visita, bem como inúmeras reflexões sobre as ilhas do Porto (tipologia insalubre de casa urbana), as ilhas na Europa, o mito grego das ilhas afortunadas e do 5ª Império Português (Fernando Pessoa), as ilhas utópicas, as do turismo e as dos refugiados.


Nostalgia, 2002 
Maria Lusitano
Filme, DVD, 17’30’’

Situado entre o vídeo-ensaio, o documentário e a ficção, Nostalgia é produto de uma longa investigação que se serve de imagens de arquivo representativas do colonialismo português em Moçambique, bem como de entrevistas com portugueses nascidos em Moçambique, retornados depois da independência da antiga colónia. É produzido a partir de imagens filmadas em Super 8, postais, fotografias, telegramas e aerogramas transpostos para minDV. O narrador do filme é o irmão duma rapariga que casa e parte para África com o marido, soldado na guerra do Ultramar: um adolescente de dezasseis anos que parte também para Lourenço Marques (atual Maputo) e que descreve, numa perspetiva adolescente e encantada, um lugar fantástico e “paradisíaco”, que em muito contrasta com as duras realidades do colonialismo e da guerra. A obra problematiza o colonialismo e o pós-colonialismo. 


Daniel Barroca
Soldier playing with a dead lizard, 2008 
Vídeo / digital, 4’30’’

Daniel Barroca trabalha apenas com filme, desenvolvendo uma pesquisa importante e consistente de caráter antropológico e artístico. Nos seus filmes recorre a um registo baseado no tratamento poético da “poeira do tempo”, na experimentação, na deficiência assumida dos registos e na procura da expressividade do médium. As imagens são desfocadas e difusas, quase sempre perto da abstração. 

Soldier playing with a dead lizard faz parte de uma instalação composta por 8 filmes. Se os primeiros são uma viagem tranquila pela simplicidade lúdica de um homem que brinca com um lagarto, neste filme as armas irrompem com brutalidade. A obra foi realizada a partir de um filme de super8 que encontrou em Berlim em 2011. Trata-se de propaganda Nazi sobre a invasão de Creta. O artista desmontou o filme e a mensagem de propaganda que glorificava a violência, e reinventou o filme a partir de fragmentos muito curtos. 


Le Boudin, 2014
Salomé Lamas
Vídeo HD, 16:9, cor, Dolby 5.1, som mono, 16’

Le Boudin (nome dado à marcha da Legião Estrangeira Francesa) documenta a história de vida de Nuno Fialho, que aos 16 anos deixa Portugal para integrar a Legião Estrangeira Francesa, num pelotão constituído por fugidos à justiça, com missões obscuras e ligadas a barões da droga e homens corruptos: limpezas étnicas e deposições de presidentes em África, guerrilhas urbanas e tarefas mercenárias várias. A realizadora conduz uma entrevista a Nuno Fialho em 2011, para depois a reproduzir através da interpretação de Elias Geißler, ator alemão de 16 anos, que desta forma dá voz e corpo à narrativa de Nuno Fialho.

A tonalidade documental é enriquecida e destabilizada pela especificidade fisionómica do rapaz, pelo cenário, pelas emoções mitigadas e pela forma como a “dúvida” sobre a veracidade dos relatos se insinua no aparente realismo do testemunho e da obra.


Lancelot, 2004
Jan Fabre 
Vídeo/DVD, 8’16’’

Resultado de uma performance filmada de quatro horas, este confronto de inspiração romanesca tem como protagonista a célebre figura de Lancelot(e), um dos cavaleiros do Rei Artur. A estrutura sonora do filme é um elemento-chave da composição, fazendo sentir o frio, o desconforto, o cansaço e o desespero. A luta aqui travada é consigo mesmo, com a sua própria sombra, ou duplo. A alegoria é representada com gritos e suor, quedas e recomeços, escuridão e restrição espacial, vontade e perda, forte fisicalidade, mas também intenso movimento interior. O guerreiro combate um inimigo invisível, dentro da sua armadura e do seu “Graal”, recriado a cinzento escuro de metal e pedra.

A programação completa do Festival pode ser vista aqui.


Linhas Curatoriais

Resiliência. Esperança. Comunidade.

Vivemos no meio de discussões especulativas sobre a era pós-pandemia. Há uma tensão entre ordem e ruptura que se reflecte na produção artística. O papel da arte é promover um diálogo significativo sobre os importantes desafios sociais, políticos e ambientais que o mundo enfrenta nos dias de hoje. Conflitos de raça e classe, emergência climática, guerras, pandemia, são crises com uma dimensão planetária que os artistas do nosso tempo estão a explorar. Como podemos criar novos conhecimentos e aproveitá-los como ferramenta de reflexão crítica e, em última análise, de mudança coletiva?


Sobre o Festival

Criado em 2009, o FUSO é o único festival português de videoarte de produção nacional e internacional, com uma programação regular anual em Lisboa e nos Açores (FUSO Insular). A programação é tão eclética quanto o são as linguagens que dão corpo à videoarte. Como medium, é sem dúvida o que tem maior flexibilidade, maior capacidade de abarcar e cruzar as disciplinas artísticas contemporâneas: as artes visuais, a performance, a dança e o teatro, o cinema ou a literatura.

Para dar uma visão mais integrada da evolução da videoarte, a sua programação junta obras já canónicas dos primórdios desta disciplina, com uma homenagem a artistas históricos, a peças contemporâneas. Com forte consistência e qualidade programática, o FUSO visa estimular o pensamento crítico em torno dos novos meios e promover o enriquecimento do conhecimento e a divulgação da arte vídeo no panorama português.