MENU
PTEN
Trienal de Arquitectura de Lisboa
Data
05 NOV 2020 - 26 NOV 2020
Horário
18:30 - 20:30
Local
Palácio Sinel de Cordes, Campo de Santa Clara 145, 1100-474 Lisboa
Preço
Gratuita
Participantes
Andrea Pavoni, Margarida Mendes, Joe Paton, Julia Steinberger
Equipa
Human Entities é um projecto concebido e organizado por Sofia Oliveira e Jared Hawkey (CADA)
Co-Produção
Informação adicional

Para inscrição nas conversas:
Andrea Pavoni
Margarida Mendes
Joe Paton
Julia Steinberger 

Human Entities 2019  (3ª edição)
Human Entities 2017  (2ª edição)
Human Entities 2016  (1ª edição)


Human Entities 2020

A cultura na era da inteligência artificial

Human Entities 2020: A cultura na era da inteligência artificial é um programa de conversas públicas focado na mudança tecnológica e nos seus impactos – nas formas como a tecnologia e a cultura se influenciam mutuamente. A quarta edição deste ciclo organizado pelos CADA é composto por quatro conversas: 5, 12, 19 e 26 de Novembro de 2020.

Em inglês, as conversas realizam-se às Quintas-feiras no pátio do Palácio Sinel de Cordes, centro cultural dinamizado pela Trienal de Arquitectura de Lisboa. A entrada é gratuita, mediante registo prévio e é obrigatório o uso de máscara.

Sinopse

Durante a pandemia assistimos a uma aceleração da incursão da tecnologia na vida quotidiana. Contudo, depois de anos de reivindicações grandiosas sobre soluções tecnológicas para todos os problemas do mundo, a resposta geral dos gigantes tecnológicos ao vírus foi mais do que decepcionante. Enquanto muitos governos nacionais lutam para enfrentar esta crise, os ganhos de Silicon Valley continuam a exceder todas as expectativas.

Estes são tempos estranhos, e este é um momento de particular transição. Mas mesmo antes do Covid-19, era frequentemente afirmado que estávamos a viver uma mudança fundamental. Este já era um período no qual um conjunto de desafios, acima de tudo a destruição ambiental, nos forçava a reconhecer que muitos dos nossos valores dominantes são insustentáveis. Num tempo de mudança tecnológica, as crises políticas e o aumento dos desequilíbrios societais, continuam a provar que muitos dos nossos sistemas complexos estão no limite da sua reprodutibilidade – as relações entre humanos e entre estes e o seu ambiente necessitam de renegociação urgente.


E, no entanto, em todo o mundo vemos uma multitude de experiências e processos positivos onde governos locais, cidadãos, empresas e universidades se estão a juntar em torno de iniciativas inovadoras a nível local mas com potencial de relevância à escala nacional e global. No meio da crise actual, novas ideias estão a emergir em todo o lado.

Assim, talvez este seja também um tempo para atender ao próprio processo de mudança, embora sabendo que a transformação social envolve complexas configurações de atores. Em relação à tecnologia, embora seja difícil examinar tais configurações – pois, como sabemos, as estruturas através das quais vemos a tecnologia são em si mesmas tecnologicamente mediadas – podemos usar este tempo para parar e reconhecer o nosso próprio envolvimento na perpetuação de normas sociais e culturais insustentáveis.

Finalmente, neste estado de crescente incerteza, talvez possamos fazer uma pausa para considerar de que forma pode esta condição ser entendida como um factor para transformações positivas na sociedade, tecnologia, economia e no comportamento das pessoas. Apesar da sensação temporária que muitos de nós têm de estar presos no presente, talvez possamos também reflectir sobre como adoptar uma maior aceitação da incerteza, uma que nos permita avançar em direcção a futuros mais desejáveis.

CADA (Sofia Oliveira/Jared Hawkey)

Quarta, 4 Novembro 2020*
18:30 - 20:30
navegando o nevoeiro urbano: sobre adaptação urbana
Andrea Pavoni
Investigador DINÂMIA'CET ISCTE-IUL

A conversa mergulha na atmosfera impalpável da vida urbana quotidiana, aquela através da qual respiramos, experimentamos, e sentimos a cidade. Em tempos de capitalismo estético, política de medo, computação ubíqua e doenças transmitidas pelo ar, este background inconspícuo tornou-se o campo de batalha da política urbana. Tecnologias digitais, imaginários de marca e regulamentos normativos entrelaçam-se cada vez mais neste quotidiano nebuloso, afectando profundamente a forma corpórea, emocional e intelectual através da qual navegamos a cidade.
Como dar sentido a esta contínua reconfiguração da experiência urbana? Três dimensões podem ser destacadas: o imperativo da adaptação no centro da ideologia neoliberal; a política de conforto que orienta a engenharia de atmosferas seguras e agradáveis na cidade; e a delegação sistémica de competências urbanas intelectuais, emocionais e éticas a proxies tecno-jurídicos, alimentando a estupidez funcional, a ansiedade social, e a desorientação existencial. Depois de desvelar a sua composição e as suas consequências políticas, a conversa terminará, tentando gesticular formas de experimentar o contrário.

Andrea Pavoni
É investigador no DINÂMIA'CET ISCTE-IUL, Instituto Universitário de Lisboa. Na intersecção entre a geografia crítica, teoria social e filosofia, a sua investigação explora a relação entre materialidade, normatividade e estética no contexto urbano. É editor da Law and the Senses Series (University of Westminster Press) e editor associado da revista Lo Squaderno, Explorations in Space and Society. O seu livro, Controlling Urban Events. Law, Ethics and the Material, foi editado na Routledge.

*Este evento foi antecipado 24h para 4.11.2020 devido às previsões meteorológicas.

Quinta, 12 Novembro 2020
18:30 - 20:30 
Sistemas fluviais e o corpo molecular
Margarida Mendes
curadora, investigadora e activista

Podemos traçar o perímetro exacto da cartografia molecular de um rio e estimar o alcance que as consequências destes sistemas de fluxo catalítico têm, dentro e fora dos corpos vivos? Os sistemas fluviais e infra-estruturas circundantes são enormes sistemas hidrogeológicos, químicos e electromagnéticos, que conectam habitantes e ecossistemas através de um fluxo irreverente de descargas e movimentos, que os seres humanos tentam domar através de direitos de caudal e projetos de restauração costeira. Deste modo, as infra-estruturas aquáticas e fluviais são pontos de partida essenciais para a análise de sistemas, e reflexão sobre os corpos e ecossistemas, da escala molecular à escala planetária. Tentando compreender a ligação entre caudal fluvial, ruído, toxicidade e industrialização, irei focar-me nos habitats do rio Mississippi e do rio Tejo, questionando de que forma o nível de ruído de fundo e o desequilíbrio químico podem estar ligados a perturbações endocrinológicas. Ao investigar a continuidade química e vibracional entre o corpo e o ambiente, especularei sobre como diferentes ontologias e mecanismos sensoriais poderão ser necessários para possibilitar um debate mais profundo sobre ecossistemas ameaçados.

Margarida Mendes
Margarida Mendes é curadora, investigadora e activista. A sua pesquisa ─ com enfoque no cruzamento da cibernética, filosofia, ecologia e filme experimental ─ explora as transformações dinâmicas do ambiente e o seu impacto nas estruturas sociais e no campo da produção cultural. Integrou na equipa curatorial da 11ª Bienal de Gwangju (2016), 4ª Bienal de Design de Istambul (2018) e 11ª Bienal de Liverpool (reagendado para 2021). Em 2019, lançou a série de exposições Plant Revolution! (CIAJG, Museo La Tertulia), que questiona o encontro interespécies explorando diferentes narrativas de mediação tecnológica, e em 2016, curou a exposição Matter Fictions, no Museu Berardo, publicando um livro na Sternberg Press. É consultora de ONGs ambientalistas que trabalham sobre a mineração no mar profundo e dirigiu também diversas plataformas educacionais, como escuelita, uma escola informal do Centro de Arte Dos de Mayo - CA2M, Madrid (2017); O espaço de projectos The Barber Shop em Lisboa dedicado à pesquisa transdisciplinar (2009-16); e a plataforma de pesquisa curatorial sobre ecologia The World In Which We Occur/Matter in Flux (2014-18). Margarida Mendes é doutoranda no Centre for Research Architecture, Visual Cultures Department, Goldsmiths University of London e colabora frequentemente com o canal online de vídeo reportagem Inhabitants-tv.org.

Quinta, 19 Novembro 2020
18:30 - 20:30
Sobre mentes e máquinas
Joe Paton
Neurocientista computacional


Quer os cérebros quer os computadores efetuam cálculos, mas na sua maioria, a semelhança acaba aqui. Os sistemas nervosos têm evoluído ao longo das últimas centenas de milhões de anos para suportar a sobrevivência dos organismos em que se situam. Os computadores feitos pelo homem existem devido às inovações teóricas e técnicas do século XX, e são impotentes sem as nossas instruções explícitas. Esta conversa explora algumas das características da estrutura e função do sistema nervoso, destacando as suas diferenças e semelhanças quando comparadas com computadores e com os modernos algoritmos para machine learning e inteligência artificial.

Joe Paton
Joe Paton, Ph.D., é um neurocientista computacional e director do Programa de Neurociência Champalimaud na Fundação Champalimaud em Lisboa e co-director do Curso de Formação Avançada em Neurociência Computacional da FENS-Cajal. Originalmente formado como biólogo, fez o seu doutoramento em Neurobiologia e Comportamento na Universidade de Columbia. O seu laboratório de investigação foca-se na compreensão dos algoritmos e mecanismos de circuitos neurais subjacentes ao comportamento inteligente e adaptativo.

Quinta, 26 Novembro 2020
18:30 - 20:30 
Crescimento verde ou Decrescimento: acção climática e prosperidade humana
Julia Steinberger
Professora e Investigadora

Novos estudos de economia ecológica mostram que precisamos rapidamente de decrescer fisicamente as nossas economias para evitar os piores efeitos da ruptura climática. O crescimento verde pode ter sido, na melhor das hipóteses, um sonho, e na pior, uma narrativa concebida para atrasar a acção. O que significa isto para o bem-estar humano e a acção política?

Julia Steinberger
A Professora Steinberger investiga e ensina nas áreas interdisciplinares da Economia Ecológica e da Ecologia Industrial na Universidade de Lausana (anteriormente Universidade de Leeds). A sua investigação examina as ligações entre a utilização de recursos (energia e materiais, emissões de gases com efeito de estufa) e a performance societal (actividade económica e bem-estar humano). Está interessada em quantificar as ligações actuais e históricas entre utilização de recursos e parâmetros socioeconómicos, e identificar vias alternativas de desenvolvimento para orientar a transição necessária para uma sociedade de baixo carbono. Venceu o Prémio Leverhulme Research Leadership com o seu projecto de investigação 'Living Well Within Limits' que investiga como o bem-estar humano universal pode ser alcançado dentro dos limites planetários. Ela é autora principal do 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) com o Grupo de Trabalho 3.