Carlos Gomes; Fernando Ramalho; Luísa Ferreira, Patrícia Portela, Tânia Moreira David; Valter Vinagre
Esta residência artística propõe-se como um lugar de escuta e atenção a Lisboa, numa altura em que a cidade se metamorfoseia, integrando a necessidade de criar de si mesma uma imagem reconhecível e atractiva para o investimento global, onde a violência imobiliária e a precariedade da vida quotidiana afectam os espaços que a compõem e a vida dos seus habitantes. Tem como base a pesquisa e prática associada à criação de dois percursos performativos da autoria de Joana Braga.
A «Cidade Imagem» propõe uma reflexão sobre o modo como as cidades são recorrentemente desenhadas e moldadas para se tornarem em imagens que representam os regimes políticos que as governam, mas também sobre o modo como outros imaginários, diversos e conflituantes, mantêm sempre a capacidade de gerar imagens distintas, visíveis em pedaços específicos do tecido urbano, nas memórias e imaginários dos seus habitantes e em múltiplas práticas artísticas.
A «Quinta Fachada», definida pelas superfícies e espaços das coberturas e terraços, propõe uma reflexão sobre este objecto paradoxal, exemplar das tensões e contradições que caracterizam a cidade.
O «Limiar» lança um olhar sobre a coexistência de diferentes usos e modos de ocupação do espaço urbano, e sobre formas distintas, menos visíveis, de fazer a cidade. Ao contrário do que as imagens dominantes procuram mostrar, a cidade não constitui um sistema homogéneo de funções e estruturas, mas uma rede tecida por descontinuidades através das quais se insinua a presença do outro, expressa por meio de práticas distintas e, muitas vezes, conflituantes.
A primeira série junta artistas portugueses de diferentes áreas artísticas e realizou-se no Palácio Sinel de Cordes ao longo dos meses de Março e Abril de 2019. Nestes encontros de trabalho e discussão colectiva, entre artistas e curadoras, os três conceitos (cidade-imagem, quinta fachada e limiar) são debatidos, criticados e experimentados.
Adicionalmente, realizam-se caminhadas colectivas a partir de rotas previamente desenhadas e reajustadas ao longo dos encontros, atravessando a zona oriental de Lisboa em torno das freguesias do Beato e de Marvila.