Em parceria com a galeria VI PER em Praga, a Trienal organiza uma exposição dupla, a decorrer simultaneamente em ambas as cidades, que explora a forma como a energia se move, se transforma e se dissipa, tanto no interior dos corpos como no mundo material.
Fazer arquitectura no sistema económico vigente significa depender da extracção do máximo de materiais, valor e energia, muitas vezes ultrapassando os limites do que o planeta ou o corpo podem repor. As diferentes etapas do desenho e construção de um edifício evidenciam um ciclo contínuo de esforço e sobre-extracção da cadeia de produção arquitectónica, das matérias-primas à mão-de-obra.
A energia é uma parte essencial desta equação: o conceito de energia incorporada refere-se à soma de toda a energia consumida ao longo do ciclo de vida de um edifício ou de um dos seus componentes, desde a extracção das matérias-primas até ao seu desmantelamento, sendo frequentemente utilizado para avaliar o impacto ambiental de uma construção. Este cálculo revela como o transporte, transformação e dissipação de energia sustentam a produção arquitectónica. A energia é o elemento subjacente e estruturante da extracção de matérias-primas à extracção de valor, ou mais-valia, através da mobilização do trabalho, tanto nos estaleiros de construção, como nos ateliers de arquitectura.
A exposição explora a estreita relação entre energia, trabalho e valor na produção da arquitectura e do ambiente construído. Quando a energia é revelada como o lastro material do valor, a maximização do valor traduz-se inevitavelmente numa maximização do consumo de energia. A produção arquitectónica opera no limite da exaustão, por vezes ultrapassando esse limite, tirando mais do que há para dar.
Este panorama apresenta investigações de todo o mundo sobre as relações entre consumo energético, sob diferentes prismas, e criação de valor. esde a pedreira e a mina, onde a arquitectura depende da extracção de recursos e, ao mesmo tempo, a incentiva; à fábrica, onde impactos ambientais e condições de trabalho perigosas se cruzam; ao espaço infra-estrutural, onde os fluxos de energia se espacializam sob a forma de trabalhadores e materiais; ao estaleiro de obra, cerne da produção arquitectónica e epicentro da extracção de mais-valia; ao escritório, onde a financeirização da arquitectura afecta directamente o modo como se trabalha; e ao edifício habitado, onde todas estas condições convergem e onde o edifício é, por fim, consumido.
Os contributos de fellows emergentes da plataforma europeia LINA estão distribuídos entre Praga e Lisboa – onde a exposição decorre em simultâneo – abordando a arquitectura habitada enquanto consumidora de energia; cartografias especulativas das dinâmicas territoriais de exaustão na Europa; e a formação de redes de solidariedade entre quem trabalha na indústria da construção para enfrentar a crise climática. A exposição conta ainda com o vídeo The Void of its Other (O Vazio do seu Outro) que explora as pressões e incentivos financeiros e políticas que moldam a produção habitacional contemporânea em Roterdão.
Tirar Mais do que Há para Dar é um contributo colectivo e plural para um futuro da arquitectura que não exija a exaustão do planeta e de quem o habita.
Com obras de: Alfonse Chiu & Emma Kaufmann LaDuc, Alina Paias & Benjamin Schoonenberg, Liisa Ryynänen e Netherlands Angry Architects!
Economias da Arquitectura apresenta a investigação de: Angela Gigliotti (bolseira de investigação Roma Calling, Istituto Svizzero), Belgian Architects United, Evelina Gambino (bolseira de investigação Margaret Tyler em Geografia e docente na Universidade de Cambridge) & Jess Gough, Jean Souviron (bolseiro de investigação, Collegium Helveticum), Laura Pappalardo (doutoranda, Universidade de São Paulo), Lesia Topolnyk, Liam Ross (professor, Escola de Arquitectura e Arquitectura Paisagista de Edimburgo), Paulien Bremmer, Serah Calitz (doutoranda, Faculdade de Arquitectura e Ambiente Construído da Universidade Técnica de Delft) e Sergio Kopinski Ekerman (professor, Faculdade de Arquitectura da Universidade Federal da Bahia).
Preparámos três visitas-oficina que exploram estas dimensões, e que adaptamos aos diferentes ciclos de aprendizagem, do pré-escolar ao secundário, em sessões de 60 a 90 minutos.
- “Calor dar, para desenhar”, pode ser com uma lâmpada, aquecedor ou secador. Queres experimentar?
- “Energia incorporada no corpo” num percurso desde a exaustão à calma. Registamos a atividade do corpo sensorial que extrai, constrói e planeia.
- “Tirar o monstro da construção” evitando desperdício. Eis o grande desafio: transformar um "monstro de entulho" num projeto bem planeado!
Para mais informações, preço e marcação com uma semana de antecedência, escreva-nos para atividades@trienaldelisboa.com