Quão pesada é uma cidade? Esta questão é o ponto de partida da investigação de três anos lançada pela 7ª Trienal sobre o complexo conjunto de transformações contemporâneas da cidade e do seu contexto, revelando uma nova configuração emergente com uma magnitude planetária.
Para dar sentido a estas transformações e compreender as agências que as sustentam, é necessária uma reassemblagem da arquitectura e do significado de construir um território colectivo. A próxima edição da Trienal quer abrir um espaço público de aprendizagem, experimentação, curiosidade, inquietação, debate, entusiasmo, indignação, especulação, transgressão, imaginação e acção sobre os futuros possíveis da coabitação. How heavy is a city? explora formas emergentes de cooperação e mutualidade, estabelecendo uma nova unidade para avaliar a arquitectura e reformular o seu papel enquanto motor de debate.
Ann-Sofi Rönnskog e John Palmesino, fundadores da Territorial Agency, são a equipa de curadoria geral, conduzindo uma investigação sobre as dimensões espaciais das transformações que marcam o Antropoceno, colocando questões de concepção, governança, acção e proposição. A 7.ª Trienal actua como congregadora, envolvendo uma vasta equipa de peritos da ciência à filosofia ou às artes que participam desde o princípio num programa ramificado em três linhas de investigação – Fluxes, Spectres e Lighter – cada uma delas resultando numa exposição, livro e sessão de debate.
15 de Setembro de 2023, 15h
A Trienal 2025 arranca com um debate aberto com especialistas da arte à arquitectura, ciência, tecnologia e humanidades – junte-se à discussão.
Compostas por quase 30 triliões de toneladas de materiais, as cidades globais são um emaranhado intrincado de estruturas em constante mutação, sistemas geometricamente complexos e ambientes espacialmente dispersos. São dispositivos que moldam energia, informação e fluxos materiais que se acumulam ao longo do tempo e se fundem no exoesqueleto duro das sociedades humanas.
Este processo dinâmico pode ser abordado investigando a base material da arquitectura, as suas complexas construções, alicerces, armaduras, fissuras, modelos, juntas, erosões, desgastes, renovações, interligações. A contagem e a medição estiveram sempre no centro da arquitectura da modernidade. Os fluxos de energia, material e informação que moldam as entidades das quais dependemos para a manutenção da habitabilidade precisam agora de ser reavaliados. Como recalibrar as nossas medições para captar as novas figuras que moldam a vida na Terra nestes tempos instáveis?
Em Spectres, How heavy is a city? torna-se uma questão que coloca a arquitectura como objecto e método de investigação dos desafios do caos climático: é o objecto exposto e investigado nas suas configurações materiais, e é através da arquitectura que avançamos sobre a questão da expansão da cidade contemporânea para todos os territórios existentes que ela atravessa.
A transformação daquilo a que costumávamos chamar a cidade é inextricável tanto das tecnologias imaginais que orientam a extracção – detecção remota, imagens térmicas, radar, sonar, lidar – como dos territórios fantasma de onde emanam energia e materiais que sustentam o capitalismo logístico contemporâneo: mineração, desflorestação ilegal, rápida urbanização, subida do nível do mar, destruição de florestas tropicais e glaciares, remodelação da mobilidade humana e segurança. Como imaginar ritmos de mudança diferentes e diversificados no ambiente construído e na biosfera?
No início da última década, a China utilizou mais betão em dois anos do que os EUA ao longo de todo o século XX. Ao mesmo tempo, os padrões de produção da arquitectura contemporânea estão a tornar-se cada vez mais insulares, com poucas coligações com as múltiplas outras formas de conhecimento sobre as complexas transformações urbanas. A arquitectura voltou-se em grande parte para soluções individuais, intervenções ad-hoc e uma atenção preeminente aos espaços fechados onde as mudanças ocorrem.
Lighter é uma exposição e publicação que exploram as possibilidades de infecção, de desvio, de não seguir as trajectórias impostas pela rápida aceleração do Antropoceno. Como imaginar uma agência quando a magnitude das actividades humanas fez das estruturas materiais que habitamos um sistema que se auto-organiza, onde somos apenas um componente e não o seu principal vector?
A Trienal 2025 é palco de um intenso programa de conferências e debates desenhado a partir das três linhas de investigação: Fluxes, Spectres e Lighter. Especialistas internacionais de muitas disciplinas dialogam e partilham com o público o seu trabalho. Durante cada sessão, é convocado um espaço comum para descobrir ideias audazes e fomentar investigação, culminando com uma drink&talk, um encontro informal e irreverente para o confronto de perspectivas entre painel e assistência.
Mais uma vez, a Trienal associar-se-á a iniciativas locais e internacionais, acolhendo projectos independentes no programa e albergando parte no Palácio do Sinel de Cordes. Ao apoiar estes eventos, ajudando a co-produzir e a divulgar as suas actividades, a Trienal reafirma o compromisso de ouvir vozes emergentes e de envolver outras iniciativas. Para tal, será lançada uma open call para seleccionar as exposições, workshops, palestras, concertos e actividades independentes que farão parte da Trienal 2025.
Em 2025, a trilogia de Prémios Trienal de Lisboa Millennium bcp regressa para celebrar conquistas em diferentes trajectórias profissionais em arquitectura. O Prémio Carreira distingue ateliers ou pessoas no activo cujas obras e ideias têm um profundo impacto na prática e pensamento arquitectónico contemporâneo. O Prémio Début impulsiona o crescimento criativo, intelectual e profissional de talentos emergentes numa fase inicial e está aberto a jovens ou ateliers com uma idade média inferior a 35 anos. Escolas do mundo inteiro podem participar no Concurso Prémio Universidades através de uma open call internacional que celebra a experimentação, inovação e produção de conhecimento à escala mundial.
Territorial Agency, fundada pelos arquitectos John Palmesino e Ann-Sofi Rönnskog, combina arquitectura, ciência, arte, advocacia e acção para promover transformações territoriais abrangentes na era do Antropoceno.
Projectos recentes incluem Sensible Zone na Bienal de Veneza, Bienal de Arquitectura e Urbanismo de Seoul, Barbican Londres, Bienal de Varsóvia; Oceans in Transformation, comissionado pela TBA21-Academy, em colaboração com ZKM Critical Zones e a Bienal 20 de Taipei; Museum of Oil com a Greenpeace, ZKM Reset Modernity e Bienal de Arquitectura de Chicago; Anthropocene Observatory com Armin Linke e Anselm Franke na HKW Berlin, BAK Utreque e na colecção do Centraal Museum Utreque.
Em 2021, Territorial Agency recebeu o Grande Prémio da Comissão Europeia STARTS Prize 2021, dedicado a projectos interdisciplinares que aliam ciência, tecnologia e artes, pela investigação Oceans in Transformation.
John Palmesino e Ann-Sofi Rönnskog são docentes na AA Architectural Association School of Architecture, Londres, onde realizam um trabalho contínuo ao longo de vários anos sobre as transformações da Costa da Europa; o iminente paradigma planetário da tecnosfera; e lançaram um novo projecto sobre a paz climática.