Quão pesada é uma cidade? Esta questão é o ponto de partida da investigação de três anos lançada pela 7.ª Trienal sobre o complexo conjunto de transformações contemporâneas da cidade e do seu contexto, revelando uma nova configuração emergente com uma magnitude planetária. Para dar sentido a estas transformações e compreender as agências que as sustentam, é necessária uma reassemblagem da arquitectura e do significado de construir um território colectivo.
A próxima edição da Trienal quer abrir um espaço público de aprendizagem, experimentação, curiosidade, inquietação, debate, entusiasmo, indignação, especulação, transgressão, imaginação e acção sobre os futuros possíveis da coabitação. How heavy is a city? explora formas emergentes de cooperação e mutualidade, estabelecendo uma nova unidade para avaliar a arquitectura e reformular o seu papel enquanto motor de debate.
Ann-Sofi Rönnskog e John Palmesino, fundadores da Territorial Agency conduzem uma investigação sobre as dimensões espaciais das transformações que marcam o Antropoceno, colocando questões de concepção, governança, acção e proposição. A 7.ª Trienal actua como congregadora, envolvendo uma vasta equipa de peritos da ciência à filosofia ou às artes que participam desde o princípio num programa ramificado em três linhas de investigação – Fluxes, Spectres e Lighter – cada uma delas resultando numa exposição, capítulo do livro e sessão de debate.
MAAT – Central Tejo
Compostas por quase 30 biliões de toneladas de materiais, as cidades globais são um emaranhado intrincado de estruturas em constante mutação, sistemas geometricamente complexos e ambientes espacialmente dispersos. São dispositivos que moldam energia, informação e fluxos materiais que se acumulam ao longo do tempo e se fundem no exoesqueleto duro das sociedades humanas.
Este processo dinâmico pode ser abordado investigando a base material da arquitectura, as suas complexas construções, alicerces, armaduras, fissuras, modelos, juntas, erosões, desgastes, renovações, interligações. A contagem e a medição estiveram sempre no centro da arquitectura da modernidade. Os fluxos de energia, material e informação que moldam as entidades das quais dependemos para a manutenção da habitabilidade precisam agora de ser reavaliados. Como recalibrar as nossas medições para captar as novas figuras que moldam a vida na Terra nestes tempos instáveis?
MUDE – Museu do Design
Em Spectres, How heavy is a city? torna-se uma questão que coloca a arquitectura como objecto e método de investigação dos desafios do caos climático: é o objecto exposto e investigado nas suas configurações materiais, e é através da arquitectura que avançamos sobre a questão da expansão da cidade contemporânea para todos os territórios existentes que ela atravessa.
A transformação daquilo a que costumávamos chamar a cidade é inextricável tanto das tecnologias imaginais que orientam a extracção – detecção remota, imagens térmicas, radar, sonar, lidar – como dos territórios fantasma de onde emanam energia e materiais que sustentam o capitalismo logístico contemporâneo: mineração, desflorestação ilegal, rápida urbanização, subida do nível do mar, destruição de florestas tropicais e glaciares, remodelação da mobilidade humana e segurança. Como imaginar ritmos de mudança diferentes e diversificados no ambiente construído e na biosfera?
MAC/CCB — Museu de Arte Contemporânea e Centro de Arquitetura
No início da última década, a China utilizou mais betão em dois anos do que os EUA ao longo de todo o século XX. Ao mesmo tempo, os padrões de produção da arquitectura contemporânea estão a tornar-se cada vez mais insulares, com poucas coligações com as múltiplas outras formas de conhecimento sobre as complexas transformações urbanas. A arquitectura voltou-se em grande parte para soluções individuais, intervenções ad-hoc e uma atenção preeminente aos espaços fechados onde as mudanças ocorrem.
Lighter é uma exposição que explora as possibilidades de infecção, de desvio, de não seguir as trajectórias impostas pela rápida aceleração do Antropoceno. Como imaginar uma agência quando a magnitude das actividades humanas fez das estruturas materiais que habitamos um sistema que se auto-organiza, onde somos apenas um componente e não o seu principal vector?
Calouste Gulbenkian Foundation
29 — 31 / OCT
Curated by Filipa Ramos
A Trienal 2025 é palco de um intenso programa de conferências e debates desenhado a partir das três linhas de investigação: Fluxes, Spectres e Lighter. Especialistas internacionais de muitas disciplinas dialogam e partilham com o público o seu trabalho. Durante cada sessão, é convocado um espaço comum para descobrir ideias audazes e fomentar investigação, culminando com uma drink&talk, moderado por Lilet Breddels, Christele Harrouk e Federica Zambeletti um encontro informal e irreverente para o confronto de perspectivas entre painel e assistência.
"O peso, elemento central de How heavy is a city?, é um dos maiores elefantes nesta sala pesada, perturbada e distópica chamada Antropoceno, criada pela humanidade para si e para os outros seres.
É inquestionável que houve uma redistribuição global e maciça do peso sobre a superfície da Terra, causada por todos os materiais que foram, e continuam a ser, extraídos, transformados, produzidos, reaproveitados e rearranjados por e para todo o tipo de actividades humanas. A forma como as pessoas vivem, circulam, consomem, produzem e poluem tem inúmeras consequências para a composição e estabilidade do planeta.
Paralelamente, se considerarmos que o peso não é apenas a expressão da massa de um corpo, mas também a força descendente que esse corpo produz, pelo simples facto de existir, e que a pressão que é capaz de gerar têm um efeito global no planeta, como é que a pressão pode actuar como agente de transformação do nosso mundo presente e futuro?
As Talk, Talk,Talk desta edição conduzirão a uma investigação sobre o papel do peso e da pressão nas diversas dimensões – espacial, infraestrutural, relacional e ambiental - durante os três dias da conferência."
Filipa Ramos
Palácio Sinel de Cordes, MAC/CCB, MNAC, e outros
Mais uma vez, a Trienal associar-se-á a iniciativas locais e internacionais, acolhendo projectos independentes no programa e albergando parte no Palácio do Sinel de Cordes. Ao apoiar estes eventos, ajudando a co-produzir e a divulgar as suas actividades, a Trienal reafirma o compromisso de ouvir vozes emergentes e de envolver outras iniciativas. De 76 candidaturas, foram seleccionadas vinte para contribuir para a reflexão desenvolvida na 7ª edição.
Em 2025, a trilogia de Prémios Trienal de Lisboa Millennium bcp regressa para celebrar conquistas em diferentes trajectórias profissionais em arquitectura. O Prémio Carreira distingue ateliers ou pessoas no activo cujas obras e ideias têm um profundo impacto na prática e pensamento arquitectónico contemporâneo. O Prémio Début impulsiona o crescimento criativo, intelectual e profissional de talentos emergentes numa fase inicial e está aberto a jovens ou ateliers com uma idade média inferior a 40 anos. Escolas do mundo inteiro podem participar no Concurso Prémio Universidades através de uma open call internacional que celebra a experimentação, inovação e produção de conhecimento à escala mundial.
Territorial Agency combina arquitectura, ciência, arte, activismo e acção para promover transformações territoriais abrangentes na era do Antropoceno. Em 2021, recebeu o Grande Prémio da Comissão Europeia STARTS Prize 2021, dedicado a projectos interdisciplinares.
Fundada por John Palmesino e Ann-Sofi Rönnskog, docentes na AA Architectural Association School of Architecture, Londres, onde desenvolvem uma investigação sobre as transformações da orla costeira europeia e o iminente paradigma planetário da tecnosfera.
Projectos recentes incluem Sensible Zone na Bienal de Veneza, Bienal de Arquitectura e Urbanismo de Seoul, Barbican Londres, Bienal de Varsóvia; Oceans in Transformation, comissionado pela TBA21-Academy, em colaboração com ZKM Critical Zones e a Bienal 20 de Taipei; Museum of Oil com a Greenpeace, ZKM Reset Modernity e Bienal de Arquitectura de Chicago; Anthropocene Observatory com Armin Linke e Anselm Franke na HKW Berlin, BAK Utreque e na colecção do Centraal Museum Utreque.