Terra é a Trienal de Arquitectura de Lisboa 2022. O programa é composto por quatro exposições, quatro livros, três prémios, três dias de conferências e uma selecção de Projectos Independentes. Com curadoria geral de Cristina Veríssimo e Diogo Burnay, Terra incorpora uma declaração de intenção e um apelo à acção. Propõe-se a evolução do actual modelo de sistema fragmentado e linear, caracterizado pelo uso excessivo de recursos, para um modelo de sistema circular e holístico, motivado por um maior e mais profundo equilíbrio entre comunidades, recursos e processos.
A Trienal 2022 explora como os paradigmas recentes estão a mudar a nossa forma de criação de lugares num Planeta globalizado. Terra aborda como as (alter)acções climáticas, a pressão sobre os recursos e as desigualdades socioeconómicas e ambientais estão profundamente interligadas. Compreender estas situações complexas requer uma mudança de paradigma de modelos de crescimento linear («cidades-máquina») para modelos de desenvolvimento circular («cidades-organismo»).
Terra sugere que se reequacione o futuro a partir do cruzamento e intercâmbio de saberes e fazeres que possam coexistir, contribuindo para um futuro mais sustentável do planeta e de quem o habita.
MNAC
Tau Tavengwa, Vyjayanthi Rao
Como se adaptam o design e a arquitectura a um período marcado por desigualdades sem precedentes, mudanças climáticas, pandemias e a necessidade de se reequacionar e reescrever o cânone que define as disciplinas?
Multiplicidade examina as estruturas contemporâneas onde operam o design e a arquitectura. Organizada em cinco partes, a exposição explora como essas áreas têm evoluído numa era de profunda incerteza global.
Apresentando pessoas da prática e do pensamento cujo trabalho redefine a escala de operação e os métodos necessários para enfrentar os desafios globais, examinamos como a arquitectura se muda a si mesma, os seus métodos e autopercepção, e a sua crescente aceitação da complexidade no esforço por manter a relevância para lá de um entendimento fechado tradicional. Multiplicidade mapeia esse processo através de vídeo, maquetes, ilustração, fotografia e desenho, descobrindo como a arquitectura e o design são chamados a responder a um mundo em diferentes estados de fluxo, e em que medida as disciplinas estão à altura do desafio à escala micro e macro.
MAAT
Loreta Castro Reguera, Jose Pablo Ambrosi
A cidade quebrada, onde vive um terço da humanidade, tenta desesperadamente chamar a atenção de quem actua em arquitectura. As infra-estruturas auto-reflexivas e retroactivas podem tornar-se sua melhor ferramenta - são uma tipologia arquitectónica para abordar a cidade quebrada, uma ferramenta de sutura que celebra a sua existência presente, a sua distribuição pelo mundo e as suas possibilidades de se tornarem espaços dignos de habitação.
O presente e o futuro da humanidade são essencialmente urbanos. No entanto, a maior parte do tecido onde essa vida está, e continuará a estar, deteriora-se ou está marginalizada. Está quebrada. A exposição pretende despertar o interesse dos projectistas pela cidade quebrada e pelas possibilidades de nela intervirem com projectos que resgatem a dignidade espacial e o sentido de pertença, estruturando necessidades e serviços básicos através da criação de equipamentos públicos. Estes devem reconciliar necessidades de vários âmbitos, construindo um vínculo entre as pessoas e o seu contexto. Nós chamamos-lhes infra-estruturas retroactivas.
Garagem Sul - CCB
Pamela Prado, Pedro Ignacio Alonso
Por vezes é difícil saber se um prédio está a ser construído ou demolido. Antes de o poder organizador da arquitectura ser activado através dos projectos, um edifício nada mais é do que uma acumulação informe de materiais, pilhas de materiais que reemergem quando a forma acaba por ser demolida, transformando-se em peso morto no domínio do lixo. Mas esses montes recém-formados de matéria desorganizada passam por um processo de desclassificação e reclassificação, de resíduos para materiais recuperados, quando profissionais da arquitectura relutantes em deitar coisas fora criam novos ciclos para eles. Nas suas mãos, eles tornam-se projectos, diluindo a fronteira entre o lixo e o não-lixo, entre o condenado e o que luta para viver.
A exposição apresenta estratégias materiais nas práticas arquitectónicas contemporâneas que migram do modelo linear para o circular. Ao projectar novos Ciclos para a distribuição da matéria, profissionais da arquitectura relutantes em deitar coisas fora abrem inquéritos sobre o passado e o presente da construção, a sua relação com a geopolítica do extractivismo e os futuros da indústria da construção. Esta arte de projectar Ciclos reconhece a energia, a água, o trabalho humano e a pegada de carbono originalmente presentes na produção dos materiais, no caminho da sustentabilidade, economia e memória.
Culturgest
Anastassia Smirnova com SVESMI
A exposição concentra-se em visões realizadas e realizáveis por pessoas da arquitectura, das artes, do design e da ciência aspiram a mudar o mundo sistematicamente. Entre essas pessoas com uma visão encontramos quem tenta impor uma ordem alternativa das coisas e projectar não apenas estruturas físicas ou objectos, mas prescrições ambiciosas e, às vezes, controversas para acções futuras. Novos modelos e protótipos não devem ser apenas réplicas, mas interpretações produtivas do debate actual sobre as estratégias planetárias que apresentam respostas ao desafio da prática na era da próxima grande narrativa. Como podem as visões radicais transformar-se na nova norma?
O Prémio Concurso Universidades Trienal de Lisboa Millennium bcp convoca universidades de todo o mundo numa perspectiva transversal. Pela primeira vez, o prémio assume duas categorias de participação, através dos mestrados e dos centros de investigação das faculdades. Além disso, juntam-se à arquitectura outras disciplinas conexas nas vertentes do projecto, da tecnologia ou das humanidades, como as mais próximas arquitectura paisagista, urbanismo e gestão territorial, ou outras como as tecnologias de materiais e de construção, a sociologia urbana e a geografia ambiental.
Pretende-se deste modo estimular a participação individual e colectiva para a produção de conhecimento em, para e sobre arquitectura. O concurso agrega centros de produção de conhecimento em várias tipologias de projecto que sejam de resposta prática arquitectónica.
O júri seleccionou as melhores propostas para integrar um núcleo em cada uma das exposições da Trienal 2022.
O Prémio Début Trienal de Lisboa Millennium bcp galardoa um/a jovem profissional ou atelier de arquitectura para celebrar as suas conquistas e promover a sua carreira. Pretendemos apoiar novas vozes e práticas. Esperamos também que o prémio contribua para o crescimento criativo, intelectual e profissional de talentos emergentes numa fase crucial e potencialmente transformadora das suas carreiras. As candidaturas a nível mundial estão abertas a indivíduos até aos 35 anos de idade, ou colectivamente a um atelier de arquitectura abaixo dessa média etária. A pessoa (ou atelier) premiada é escolhida pelos membros do júri a partir das candidaturas recebidas, a par de uma lista de nomeação apresentada por figuras influentes de diferentes nacionalidades.
Ver regulamento.
O Prémio Carreira Trienal de Lisboa Millennium bcp distingue o atelier ou pessoa no activo cujo trabalho e ideias tenham influenciado e continuem a ter um impacto profundo na prática e no pensamento arquitectónico actuais, sem colocar a ênfase no final de uma carreira, mas antes na ousadia da sua prática - acreditamos na prática consistente e de excelência, no trabalho relevante e na sua distinção.
O prémio é atribuído após uma selecção independente que passa por duas fases. Primeiro, figuras de relevo no panorama da arquitectura são convidadas pela Trienal para sugerir três nomes que considerem merecedores do prémio. A lista resultante é então entregue a um júri constituído por cinco personalidades de todo o mundo para seleccionar o vencedor, que recebe uma obra de arte original criada por Carlos Nogueira.
Os Projectos Independentes são parte integrante do programa com propostas nacionais e internacionais independentes e auto-financiadas que enriquecem de forma articulada esta Trienal. Com diversos formatos vêm aprofundar o debate acerca do futuro das ecologias em arquitectura. Das 67 candidaturas, foram seleccionadas 16 propostas que serão apresentadas em vários locais da Área Metropolitana de Lisboa, entre os quais o Palácio Sinel de Cordes.
As exposições centrais são o ponto de partida para Talk, Talk, Talk, uma série de conferências de três dias em torno das temáticas de Terra. Tem como objectivo entre-cruzar os fundamentos e implicações de Terra, a aplicação dos instrumentos da profissão no paradigma circular e a premência de se definir o objecto destas práticas. Reúnem-se aqui personalidades internacionais do pensamento, investigação, academia e arquitectura para discutir acções futuras. É o momento certo para trocar experiências em várias áreas de especialidade, partilhar reflexões e estimular um debate alargado sobre os temas abordados pelo programa principal, que termina com um encontro mais informal aberto ao confronto de ideias entre o painel e o público.
Cristina Veríssimo e Diogo Burnay (Portugal) são um duo que alia a prática à investigação e ao ensino, que tem demonstrado ao longo dos últimos anos como a diversidade de países onde trabalha e de formas de praticar arquitectura tem enriquecido o seu currículo. Cristina estudou na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa e em Harvard, e leccionou em países como Hong Kong, Argentina, Chile, Estados Unidos da América e Canadá. Em contexto de atelier, colaborou com Zaha Hadid e João Luís Carrilho da Graça. Diogo, que também estudou em Lisboa, e mais tarde na Bartlett School of Architecture, trabalhou em Lisboa, Londres e Macau com Maria Godinho de Almeida e Duarte Cabral de Mello e também no BDP com Manuel Vicente e OBS Arquitectos. Em 1999, fundaram juntos o atelier CVDB em Lisboa, cujo mérito tem sido internacionalmente reconhecido com obras premiadas como a Escola Secundária Braamcamp Freire, o Museu do Tapete de Arraiolos ou o Museu do Megalitismo em Mora.
Anastassia Smirnova (Holanda) é uma designer e investigadora russa. Cenógrafa de formação, tem participado em inúmeros projectos multidisciplinares que vão desde o design e a escrita até à programação educativa e cultural. Em 2007 juntou-se ao AMO, um think tank dentro do Office for Metropolitan Architecture, para liderar a pesquisa para o Plano Director do Museu Hermitage. Fez parte da equipa que fundou o Instituto Strelka para Media, Arquitectura e Design, em Moscovo, onde mais tarde co-dirigiu o programa educativo. Anastassia também foi curadora e directora académica do primeiro programa internacional russo de mestrado em urbanismo - Advanced Urban Design, uma iniciativa conjunta da Escola Superior de Economia e do Instituto Strelka. Como sócia do SVESMI - atelier holandês-russo de arquitectura, planeamento urbano e educação conhecido pelos seus projectos e investigação conceptuais - coordena iniciativas culturais.
José Pablo Ambrosi (México) estudou Arquitectura na Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), com um intercâmbio na UPC Barcelona, onde fez parte da Cátedra Blanca de Carlos Ferrater. Também cursou um MBA Executivo no Instituto Panamericano de Alta Dirección de Empresas. José Pablo tornou-se CEO de uma empresa familiar de construção e imobiliário, transformando-a no Taller Capital, empresa de projectos e construção que aproveitou a experiência anterior, fundado com Loreta Castro Reguera. Focado no design urbano através da densificação e das infra-estruturas de espaços públicos, o trabalho do atelier rendeu-lhes o reconhecimento e prémios nacionais e internacionais, como o Architectural League Emerging Voices Award 2021. O Taller Capital desenhou e construiu projectos de habitação privada, edifícios públicos e espaços públicos no México.
Loreta Castro Reguera (México) estudou Arquitectura na Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) e na Accademia di Architettura di Mendrisio e é Mestre em Design Urbano pela GSD de Harvard. Conseguiu várias bolsas e ganhou o Prémio para Arquitectura Social da Bienal da Cidade do México. A sua pesquisa sobre água e design mereceu-lhe o Druker Traveling Fellowship Award e o LafargeHolcim Award for Sustainable Construction Gold Prize, com Manuel Perló. Com José Pablo Ambrosi fundou o Taller Capital, focado no design urbano através da densificação e infra-estruturas de espaços públicos, o que lhes rendeu o reconhecimento e prémios nacionais e internacionais, como o Architectural League Emerging Voices Award 2021. O Taller Capital desenhou e construiu projectos de habitação privada, edifícios públicos e espaços públicos no México. Loreta é professora na UNAM e tem sido convidada como crítica de design, professora e conferencista em todo o mundo, além de escrever para revistas e livros.
Pamela Prado (Chile) estudou filosofia na Universidade do Chile e fez mestrado em Curadoria de Arte Contemporânea no Royal College of Art de Londres. O seu trabalho académico e curatorial desenvolveu-se entre o Reino Unido, Brasil e Chile. Organizou o seminário The New Archive: Documenting Latin American Art, no Royal College of Art, e foi co-fundadora da Curating Contexts, uma plataforma de investigação e discussão das artes visuais na América do Sul. Foi curadora em residência do Fórum Permanente e do Ateliê Fidalga, em São Paulo, Brasil. Foi ainda curadora e co-curadora de várias exposições no Royal College of Art, Centro Cultural São Paulo e Groupe Intervention Vidéo, Montréal, entre outros. Colaborou com a revista Exit Express, em Espanha, e também é editora do livro Alfredo Jaar: Los Ojos de Gutete Emerita e autora de uma entrevista com Walter Zanini, publicada pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
Pedro Ignacio Alonso (Chile) é arquitecto com mestrado em Arquitectura pela Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC) e doutoramento em Arquitectura pela Architectural Association (Reino Unido). É Professor Associado na PUC e Professor Convidado na Architectural Association. Foi Bolseiro Princeton-Mellon na Universidade de Princeton e arquitecto residente no Bellagio Center da Fundação Rockefeller. Pedro tem um histórico de produção de exposições com Hugo Palmarola, tendo a dupla recebido o Leão de Prata pelo Pavilhão Chileno Monolith Controversies na Bienal de Arquitectura de Veneza em 2014. O volume editado que produziram para acompanhar a exposição recebeu o Deutsches Architekturmuseum Book Award 2014. Também foi curador da exposição Flying Panels: How Concrete Panels Changed the World, no Swedish Center for Architecture and Design, e é autor dos livros Deserta: Ecology and Industry in the Atacama Desert, Panel, Space Race Archaeologies e Flying Panels.
Tau Tavengwa (Zimbabué/ Reino Unido) é co-fundador, curador e editor da Cityscapes, uma revista anual sobre cidades e vida urbana em África, América Latina e Sul da Ásia. Cada edição de Cityscapes apresenta histórias e análises sobre o estado actual e futuro das cidades e da urbanização do ponto de vista do Sul Global. O projecto cresceu e inclui agora eventos ao vivo, exposições e consultoria. Além de Curador-Geral do African Centre for Cities da Universidade da Cidade do Cabo, Tau foi Bolseiro Loeb da Universidade de Harvard em 2018. Actualmente é Bolseiro Convidado na LSE Cities da London School of Economics e Bolseiro de Investigação no Max Planck Institute for Religious and Diversity Studies. Com experiência em arquitectura e design de museus, publicações de arquitectura e arte, o seu trabalho nos últimos doze anos focou-se em problemáticas urbanas e tem-se traduzido em exposições, publicações periódicas, livros e filmes.
Vyjayanthi Rao (Índia/EUA) é uma antropóloga, escritora e curadora especializada em deslocamento, memória, culturas materiais e imaginários do futuro, com interesse particular em práticas especulativas na vida social contemporânea. O seu trabalho explora as conexões entre a violência, a ruína, a incerteza e a especulação na cultura contemporânea, e está amplamente publicada em jornais, edição de volumes, textos de catálogos e revistas. Doutorada em Antropologia Sócio-Cultural pela Universidade de Chicago, leccionou na The New School for Social Research e na Spitzer School of Architecture. Actualmente é professora convidada na Yale School of Architecture e editora sénior da publicação Public Culture. Integrou a equipa curatorial da 6.ª edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa (2022), como co-curadora da exposição Multiplicity com Tau Tavengwa.